segunda-feira, 13 de julho de 2009

ESPANHA

Um “olé” da Espanha
Achei que trabalhar num país desenvolvido e de língua parecida seria moleza. Mas tive mais dificuldades do que esperava
Por Flavia Leite*

Plaza de la Cibeles, Madri: nos dias longos de junho a setembro, o expediente começa às 8h e vai até as 15h

Para usar uma expressão muito comum da língua espanhola, desafios “me encantam”. Por isso, quando meu namorado soube que seria transferido para Madri e me convidou para vir, não hesitei. Larguei minha vida confortável como consultora em São Paulo, arrumei as malas e parti. Os primeiros dias foram uma diversão, já que era tudo novidade. Depois comecei a tropeçar em diferenças gritantes de cultura. A primeira delas foi perceber que a sociedade espanhola ainda é muito machista. Comecei a trabalhar como analista em uma empresa de sistemas geográficos e, certa vez, minha participação em um projeto precisou passar pela aprovação do cliente. O motivo? O fato de eu ser mulher. Algumas empresas ainda têm restrições à participação de mulheres em determinados trabalhos. Só venci a resistência por causa da minha vasta experiência com projetos. Também existe preconceito com pessoas de fora da Europa. Consegui contornar isso mais facilmente porque tenho passaporte europeu – em algumas situações, percebi que é melhor dizer que sou italiana, em vez de brasileira. Aos poucos, conseguimos nos integrar à forma de viver do espanhol. Embora seja uma das maiores capitais da Europa, Madri tem um ritmo mais lento do que São Paulo. Precisei desacelerar um pouco para me adaptar, a começar pelo horário. O almoço começa às 13h30, e não tente encontrar restaurante aberto antes disso. Nas grandes empresas, a tradicional siesta não existe, mas para o comércio é obrigatória. Ou seja, nem pensar em aproveitar o horário do almoço para fazer compras ou resolver assuntos pessoais. Está tudo fechado! Há, entretanto, coisas positivas nessa diferença de ritmos. De junho a setembro, por exemplo, para aproveitar os dias mais longos, fazemos jornada intensiva. O expediente vai das 8h às 15h. Quem tem piscina vai tomar sol, outros passeiam ou vão às compras. Eu gosto de colocar a casa em ordem: lavo e passo roupa, limpo e cozinho (diarista aqui é luxo). Assim, conseguimos tirar os fins de semana para viajar. Em um ano e meio, já fomos a 13 países e fizemos descobertas incríveis, como o interior da Eslovênia. Uma das surpresas que me pegaram foi a língua. Não achei que teria dificuldades. Mas quando comecei a usar o espanhol no dia a dia tive a noção do quanto ainda tinha de aprender, e que a similaridade das palavras, em vez de ajudar, dificulta. Todos os dias passo por alguma confusão. Outro dia perguntei às minhas colegas onde comprar “balón de cumpleaños”. Todas riram. As bexigas aqui chamam-se “globos”.*Flavia Leite, 34 anos, mudou-se para Madri há um ano e meio. Trabalha como consultora de projetos no grupo Ferrovial, uma das maiores multinacionais espanholas.

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